Você tem diabetes? Então faça um exame de olhos — e rápido
Novembro é o Mês Mundial do Diabetes, estabelecido pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês) para alertar e conscientizar as populações a respeito do risco de desenvolver diabetes e suas complicações.
Vivemos uma epidemia silenciosa de diabetes que hoje atinge mais de 400 milhões de pessoas no mundo e quase 14 milhões no Brasil. Atualmente ocorrem mais mortes por diabetes do que por câncer e aids somados. Apesar disso, parece faltar aos nossos governantes qualquer senso de urgência para tratar do assunto.
A retinopatia diabética, é uma das complicações mais prevalentes. Cerca de 60% dos pacientes com diabetes do tipo 2 e praticamente todos os portadores de diabetes do tipo 1 têm algum grau de retinopatia após vinte anos de doença.
A retinopatia diabética consiste em uma alteração da estrutura dos pequenos vasos da retina, resultado do efeito prolongado dos níveis elevados de açúcar no sangue. Essa alteração não traz sintomas como dor ou distúrbios visuais, até o momento em que esses vasos fragilizados se rompem. É a hemorragia intraocular, que leva à cegueira. Assim, a retinopatia diabética é uma condição que pode levar um indivíduo, que não suspeita de sofrer dessa complicação por ter a visão perfeita, à cegueira em pouco tempo. Aproximadamente metade dos portadores de diabetes existentes no nosso país desconhece ter a doença e cerca de 30% desses pacientes já apresentam algum grau de retinopatia, o que nos dá uma visão clara da magnitude do problema.
A recomendação internacional para enfrentar o problema é que, assim que diagnosticados com diabetes, os pacientes façam um exame de fundo de olho. Esse procedimento nada mais é que a visualização dos vasos da retina com o auxílio de um oftalmoscópio. Demora menos de um minuto, é indolor e relativamente barato (27 reais pela tabela do SUS e 20 dólares nos EUA). Os pacientes que já têm o diagnóstico devem fazê-lo anualmente.
O exame permite verificar se algum vaso da retina corre o risco de se romper, caso em que se recomenda a cauterização preventiva com o uso de um feixe de laser ou, alternativamente, o uso de medicações específicas por injeção intraocular. Ao evitar[[-se]] a ruptura do vaso evita-se o risco de sangramento e da cegueira. Apesar da simplicidade do procedimento e da evidente necessidade de seguir tais recomendações, a grande maioria dos portadores de diabetes do nosso país não recebe esses cuidados.
Um estudo realizado em Sorocaba, cidade da região metropolitana de São Paulo, pelo endocrinologista Mauricio Aguiar, verificou que 78% dos pacientes diagnosticados com diabetes jamais realizou um único exame de fundo de olho. Poucos gastos são tão claramente custo-efetivos quanto esse exame, que deveria estar facilmente disponível. Em apenas uma década, a cidade de Estocolmo conseguiu reduzir em 66% os casos de cegueira, com um custo mínimo, simplesmente disseminando a possibilidade de realização do exame em qualquer posto de saúde.
É certo que no Brasil há uma carência atroz de oftalmologistas. Com isso, as autoridades responsáveis pela saúde não equipam os postos com o oftalmoscópio, alegando a inexistência de pessoal para fazer o exame. No Rio de Janeiro, chocada pelo fato de jovens portadores de diabetes tipo 1 estarem perdendo a visão desnecessariamente, a endocrinologista Solange Travassos mobilizou os oftalmologistas da cidade a se comprometerem a atender gratuitamente dois pacientes ao mês.
O Brasil não é o único país onde faltam endocrinologistas. Em muitos lugares técnicos como oftalmometristas estão sendo treinados para fotografar digitalmente a retina e enviar as fotos via internet para centros oftalmológicos de referência, onde o diagnóstico é feito e os pacientes de risco são convocados. Mais recentemente, foram desenvolvidos aplicativos e acessórios que transformam o celular em oftalmoscópio e programas de computador que analisam as fotos e fazem o diagnóstico. Portanto, há diversos caminhos possíveis a seguir se nos dispusermos a enfrentar o problema e disseminar o conhecimento. Para isso serve o Mês Mundial do Diabetes.


Por Freddy Goldberg Eliaschewitz
Endocrinologista, diretor do Centro de Pesquisas Clínicas CPclin e Presidente da Comissão de Pesquisa as Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia